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Cúpula do G20 mostra progresso político para a Índia e o Sul global

Cúpula do G20 mostra progresso político para a Índia e o Sul global

Diplomacia indiana e o seu primeiro-ministro Narendra Modi superam as diferenças sobre a questão da Ucrânia e salvam a declaração, de 34 páginas e 83 parágrafos, adotada por consenso.

POR CORRESPONDENTE IPS

NOVA DELI – A Índia alcançou consenso entre as nações conflitantes do Grupo dos 20 (G20), as maiores economias do planeta, cujos líderes se reuniram nesta capital, e a União Africana (UA) foi admitida como membro do seleto clube, em paridade com o qual até agora era o único membro multinacional, a União Europeia.

Desta forma, a Índia “obteve um triunfo diplomático que confirma o seu papel como porta-voz do Sul global e ator relevante numa transição global em que o confronto entre blocos ameaça dificultar a governança global e aumenta a fragmentação mundial”, observou de Buenos Aires, o analista Andrés Serbin.

O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, saudou a declaração de consenso adotada pelos líderes do G20 sobre uma série de questões, que “também reflete o papel da Índia como líder no Sul global e nos países em desenvolvimento”.

Serbin, presidente-executivo da Cries (Coordenadoria Regional de Pesquisas Econômicas e Sociais) lembrou que, dada a incerteza sobre o sucesso da cúpula, Guterres descreveu o G20 como uma “família disfuncional”.

Tiveram de ser reunir líderes de potências em confronto nos campos político, militar, econômico e tecnológico: os Estados Unidos e a União Europeia, por um lado; e a Rússia, em alianças crescentes com a China, por outro.

As reuniões preparatórias em âmbito ministerial não tinham chegado a consenso sobre numerosos assuntos da agenda da cúpula, e o ponto mais crítico foi a questão da Guerra na Ucrânia, o confronto Leste-Oeste desencadeado quando as forças russas invadiram a vizinha país, em 24 de fevereiro de 2022.

Mas surpreendentemente, a diplomacia indiana e o seu primeiro-ministro Narendra Modi superaram as diferenças sobre a questão da Ucrânia e salvaram a declaração, de 34 páginas e 83 parágrafos, adotada por consenso.

A declaração destacou o sofrimento humano causado pela guerra e reiterou o reconhecimento da integridade territorial de todos os Estados e a rejeição do uso da força para resolver diferenças territoriais, mas absteve-se de mencionar a Rússia, tal como solicitado pelas vozes do Ocidente.

Um dos redatores do compromisso, o indiano Amitabh Kant, escreveu em sua conta X (no Twitter) que o texto consumiu “mais de 200 horas de negociações ininterruptas, 300 reuniões bilaterais e 15 rascunhos”.

“Conseguimos impedir as tentativas do Ocidente de ‘ucranizar’ a agenda da cúpula, o que foi um sucesso”, celebrou o ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Sergei Lavrov, que substituiu o presidente russo, Vladimir Putin, na reunião.

O presidente chinês, Xi Jinping, também não compareceu, e o primeiro-ministro Li Qiang compareceu em seu lugar, o que pode ser interpretado como mais um sinal da rivalidade entre os dois gigantes asiáticos, a Índia e a China.

Por outro lado, a inclusão da União Africana (UA) é considerada um impulso à crescente importância global de África e, em particular, uma nova conquista para Modi, uma vez que foi sua a tese de incorporar a união das 54 nações nas reuniões.

O G20 foi criado como uma plataforma de ministros das finanças e governadores de bancos centrais em 1999 para neutralizar os efeitos da crise financeira asiática por meio de um consenso. Ascendeu ao nível de líderes mundiais e expandiu as agendas após a crise financeira global de 2008.

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Existem as economias mais industrializadas, Estados Unidos, Alemanha, Japão, Grã-Bretanha, França, Canadá e Itália, juntamente com China, Índia, Rússia, Coreia do Sul, Austrália, Arábia Saudita, Turquia, Indonésia, África do Sul, União Europeia e, da América Latina, suas três maiores economias, Brasil, México e Argentina.

Serbin destacou que em 2017, durante a presidência de Donald Trump, os Estados Unidos “tentaram torpedear” o grupo, que resistiu ao ataque, mas com “uma forte deriva para a política”, que foi acentuada pela guerra na Ucrânia e pelo confronto estratégico em vários domínios entre Washington e Pequim.

No entanto, questões caras ao Sul e ao multilateralismo estão a avançar e, por exemplo, na declaração de Nova Deli, os líderes concordaram em triplicar as energias renováveis ​​e reduzir gradualmente as baseadas na utilização do carvão.

Dois membros do G20, a Rússia e a Arábia Saudita, são os maiores exportadores de petróleo, e a China e a Índia são consumidores crescentes de carvão.

Os líderes também concordaram em abordar a questão da dívida externa dos países mais pobres e vulneráveis, e em fortalecer e reformar os bancos multilaterais de desenvolvimento, embora sem estabelecer metas ou medidas específicas.

Modi propôs que os líderes do G20 se reunissem por videoconferência em novembro para avaliar medidas que podem ser tomadas para chegar a acordos.

Num intervalo da reunião, os líderes vieram – descalços ou de chinelos na relva molhada – prestar homenagem ao líder pacifista e pai da independência indiana, Mahatma Gandhi, no espaço Samadhi que o recorda.

Um gesto a favor do Sul foi visto no encerramento da reunião de 10 de setembro, quando Modi entregou a presidência do G20 ao presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, que assumirá formalmente o comando a partir de dezembro.

“Parabenizo o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e entrego-lhe o martelo da presidência”, disse Modi, e ao receber o símbolo, o brasileiro agradeceu à Índia pelos esforços como líder do grupo e por conseguir a inclusão da UA, representada por seu presidente e chefe de Estado das Comores, Azali Assoumani.

A próxima cúpula do grupo será sediada pelo Brasil, em novembro de 2024. Serão priorizados três temas: inclusão social, transição energética e desenvolvimento sustentável nos campos social, econômico e ambiental.

Artigo originalmente publicado na Inter Press Service.


FOTO DE CAPA:

Descalços ou de chinelos, os líderes do G20 vieram prestar homenagem ao pai da Índia, Mahatma Gandhi. O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, e o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, caminham primeiro. A reunião do grupo das maiores economias contornou a questão da guerra na Ucrânia e sustentou a presença do Sul na arena internacional. Imagem: PIB

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